Filho de brasileiros assume vaga no Congresso dos EUA na corda bamba

WASHINGTON - O filho de brasileiros assumiu uma cadeira no Congresso Nacional dos Estados Unidos nesta terça-feira, 3, mas tem o seu cargo em xeque após ser desmascarado por mentir em seu currículo e voltar a encarar um processo de estelionato no Brasil. 

Durante a cerimônia de posse, George Santos, 34 anos,  jurou "servir à Constituição e ao país", mas há dúvidas se o republicano de Nova York vai permanecer no cargo até o fim do mandato. 

O deputado enfrenta pressão significativa de ambos os partidos. Os próprios republicanos se distanciam dele, e pedem mais explicações acerca de sua conduta. Alguns pedem inclusive que a Câmara abra uma investigação ética sobre ele.

Santos começa mandato isolado de seus partidários

"O sujeito que mentiu sobre seu currículo?", questionou o deputado republicano Mike Gallagher, do Wisconsin, ao ser indagada quando saía de uma reunião matinal antes da seção da Câmara.  Ele disse que Santos "deixou claro que não tem noção da verdade", ressalta a Folha de S. Paulo. 

Depois que as mentiras vieram a tona, Santos chegou a adimitir a "escolha ruim de palavras" quando afirmou ter trabalhado no Citigroup e Goldman Sachs. Na verdade, ele fazia parte de firmas,  como a LinkBridge Investors, que fazia negócios com aqueles bancos. 

Em contrapartida, na mesma época George Santos tem um registro de emprego na Dish Network, empresa de antenas parabólicas. No call center da firma, localizado no bairro do Queens, onde nasceu e foi criado em Nova Iorque, ele ficou conhecido como um atendente educado que, além do inglês, também falava português e era frequentemente chamado para atender chamadas de imigrantes brasileiros.

Santos reconheceu ainda que não se formou na Baruch College, de onde dizia ter um diploma --diretores da faculdade não encontraram registros de alguém com seu nome ou sua data de nascimento que tivesse encerrado lá os estudos em 2010. O republicano revelou que nunca cursou o Ensino Superior. 

Judeu

Na esteira das denúncias, a publicação judaica The Forward relatou que Santos teria enganado os eleitores também sobre ter ascendência judaica.

Em seu site e em declarações dadas durante a campanha eleitoral, ele contou que a mãe, Fatima Devolder, nasceu no Brasil, filha de imigrantes que "fugiram da perseguição aos judeus na Ucrânia, estabeleceram-se na Bélgica e novamente fugiram da perseguição durante a Segunda Guerra Mundial".

Fatima morreu em 2016, mas sua página no Facebook ainda está ativa e a revela como católica atuante e não cita qualquer ligação com o judaísmo. 

De acordo com The Forward, porém, citando informações do site de genealogia My Heritage, documentos de imigração brasileiros e bancos de dados de refugiados, os pais de Devolder parecem ter nascido no Brasil antes da Segunda Guerra. A Coalizão Judaica Republicana divulgou que Santos não será mais bem-vindo a eventos do grupo.

Família Rica 

Apesar da rigorosa pesquisa, os jornalistas nova-iorquinos não conseguiram encontrar quaisquer registros bancários, financeiros ou imobiliários da fortuna de Santos. O deputado costuma dizer que é herdeiro uma fortuna familiar e que seus parentes seriam importantes empresários do ramo imobiliário no Brasil.

Mas de acordo com ex-amigos e conhecidos de Santos entrevistados pelo NYT, apesar de ele sempre ter se mostrado ambicioso, as descrições feitas em campanha do império imobiliário da família, com propriedades no Brasil e nos EUA, não batem com os apartamentos pequenos que ele morou de aluguel no Queens. Em um dos alugueis, George dividia a casa com a irmã e a mãe, que seria empregada doméstica.

Em sua biografia de campanha, Santos dizia que a mãe trabalhou até se tornar "a primeira mulher executiva numa grande instituição". Mas ainda há uma página na internet que mostra o pedido doações na época da morte da brasileira há seis anos. Ela foi criada pelo próprio deputado a favor dele mesmo, apenas altera os sobrenomes (veja na foto abaixo).

A mensagem no gofundme diz que "Fátima deixou dois filhos que não estavam trabalhando pois ela necessitava 24horas de cuidados e agora eles estão precisando da nossa ajuda nesse momento tão delicado. Qualquer valor de doação é muito bem vindo. Obrigada!"

A arrecadação somou US$1.850, bem abaixo dos US$ 9 mil esperados. 

Em sua página no Facebook, Fátima falava do orgulho de ser mãe e criar os filhos sozinhos. 

Sobre o pai de Santos, sabe-se até agora que era um imigrante de Minas Gerais que trabalhava na área de contrução. 

Processo no Brasil 

Enquanto Santos era empossado, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) confirmava que vai reabrir o processo contra Santos por estelionato, justamente devido à validação de um endereço residencial necessária para assumir o posto no Congresso.

Em nota, o MPRJ afirmou que “o réu foi eleito deputado nos Estados Unidos da América e que, portanto, tem endereço certo, o que vai possibilitar sua citação e a reabertura do processo”. 

Para dar continuidade ao processo, um juiz precisa de uma carta rogatória ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Para isso, porém, é preciso aguardar o fim do recesso da Justiça Estadual brasileira, que se encerra nesta sexta-feira, 6. Caso Santos não apresente defesa no Brasil, ele vai ser julgado à revelia, e a condenação máxima é de cinco anos de prisão e uma multa.  

Em 2008, Santos foi indiciado no Brasil por estelionato sob suspeita de ter furtado um talão de cheques que teria usado para fazer compras em Niterói (RJ) --os cheques de R$ 2.144 não teriam fundos.

Print na mensagem de Santos no extinto Orkut
O processo contra Santos havia sido suspenso porque as autoridades não conseguiam localizá-lo. Nathaly Ducoulombier, porta-voz do Ministério Público do Rio de Janeiro, disse ao New York Times que, com a eleição e consequente paradeiro identificado do parlamentar, um pedido formal será feito ao Departamento de Justiça dos EUA para notificá-lo das acusações.

Essa acusação, que também foi apontada pelo NYT, Santos nega. 

 "Não sou um criminoso aqui - nem aqui, nem no Brasil, nem em qualquer jurisdição do mundo", disse ele. "Absolutamente não. Isso não aconteceu", afirma o parlamentar. 

Mas mensagens dirigidas ao empresário lesado, Santos recohece o crime e promete pagar. O que nunca aconteceu. 

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