Consumo desenfreado nos EUA confunde economistas

 WASHINGTON - Economistas estão tentando entender a onda desenfreada de gastos dos consumidores nos Estados Unidos num contexto de taxas de juro elevadas, poupanças magras e inflação paralisante.

Na Black Friday, as vendas em lojas aumentaram 1,1% em relação ao ano passado; só na internet, um valor recorde de US$ 9,8 bilhões foi alcançado.

Já na Cyber ​​​​Monday, consumidores gastaram outros US$ 12,4 bilhões, um aumento de 9,6% em relação ao ano passado.

As duas datas refletem o padrão de gastos dos americanos, que manteve a economia do país em alta em 2022, representando quase 70% do crescimento de 4,9% do PIB real no terceiro trimestre.

De de um lado, parte dos gastos refletem o custo crescente das necessidades básicas; de outro, os americanos continuam comprando itens caros e gastando muito dinheiro em experiências como viagens.

Nova tendência

Alguns economistas questionam sobre o fenômeno, especialmente porque a percepção dos consumidores sobre o momento econômico do país permanece esmagadoramente pessimista.

"Se tivéssemos dito há 18 meses que o Banco Central dos EUA poderia aumentar as taxas de juros em 500 pontos base e que o consumidor continuaria relativamente tranquilo, eu teria ficado muito surpreendida", diz Ellie Henderson, economista do banco Investec.

Normalmente, após uma grande crise ou recessão no mercado de trabalho, a economia experimenta uma pequena recuperação tanto nas poupanças como nos gastos dos consumidores.

No entanto, o Reserve Bank de São Francisco informou em maio que o aumento pós-pandemia das despesas fiscais neste ano ultrapassou o crescimento que se seguiu a qualquer outra recessão desde a década de 1970.

Grande parte desse crescimento, apontam os especialistas, deve-se a um aumento “sem precedentes” nas poupanças acumuladas pelas famílias americanas, impulsionado pela rápida resposta fiscal do governo dos EUA à pandemia.

Pacotes de estímulo que injetaram diretamente  US$5 bilhões  na economia americana – combinados com outras políticas indiretas que incluíram moratórias de despejo ou suspensão de pagamentos de dívidas de empréstimos estudantis – levaram as pessoas a poupar cerca de US$ 2,3 bilhões em 2020 e 2021.

Embora muita gente tenha retirado parte das reservas das suas poupanças neste ano, muitos ainda têm dinheiro em reserva - algumas pela primeira vez na vida - e estão dispostas a gastá-lo agora, mesmo que não acreditem que haverá uma recuperação econômica completa.

Jovens

Os segmentos mais jovens e de classe média alta  lideram este tipo de gastos, de acordo com a consultoria Boston Consulting Group.

Embora estas pessoas não sejam necessariamente abastadas, ganham o suficiente para cobrir suas necessidades e podem gastar em viagens de lazer e artigos de luxo.

Muitas delas também se inclinam para plataformas do tipo "compre agora e pague depois", que estão registrando um enorme crescimento nos EUA, como ocorreu durante a maratona de compras da Black Friday em novembro.

“A força dos gastos dos consumidores, mesmo depois dos dias sombrios da pandemia, me pegou de surpresa”, diz Wendy Edelberg, investigadora sênior em estudos econômicos na Brookings e diretora do Projeto Hamilton.

No entanto, embora este padrão não siga os precedentes econômicos do país, alguns especialistas sustentam que pode ser um comportamento intuitivo.

"Quando você realmente não sabe o que o futuro reserva - ou mesmo se há um futuro longo o suficiente para você - você se concentra no presente e no horizonte de curto prazo", diz Chiraag Mittal, professor associado de marketing na Escola de Marketing de Comércio McIntire da Universidade da Virgínia.

E acrescenta que, em meio a mudanças comportamentais no trabalho e na vida, “as pessoas estão optando por priorizar sua felicidade e diversão”.

Mudança

Por mais inexplicável que o fenômeno possa parecer, vários economistas concordam que estes padrões de gastos tipo "YOLO" (sigla para a frase "Você só vive uma vez", em tradução  do inglês "You only live once) não podem continuar para sempre e que o cenário econômico está prestes a mudar.

Ventos contrários significativos que podem afetar esta situação, como o impacto das bolsas de educação infantil que expiraram em outubro passado e o retorno dos pagamentos de empréstimos estudantis.

Além disso, a dívida do cartão de crédito dos EUA ultrapassou pela primeira vez US$1 bilhão e economistas prevêem que o custo dos bens básicos não deverá cair tão cedo, mesmo que a inflação seja controlada.

 

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