Brasileira da Máfia do Uber sai da cadeia mas fica nos EUA para testemunhar sobre casamento falso

BOSTON - A história de Priscila Barbosa, condenada nos Estados Unidos por fraudar e alugar milhares de contas de aplicativos, voltou a ganhar as manchetes da imprensa no Brasil essa semana. Hoje ela mora em Massachusetts após cumprir a pena de prisão por 2,6 anos e passar por cinco presídios. 

À Manchete USA, a paulista de Sorocaba, que chegou a lucrar mais de US$ 10 mil por mês,  diz que não faria de novo, mas acredita que ajudou muita gente a conseguir trabalho. "Eu fazia de graça para muitos. As pessoas me procuravam desesperadas, pediam ajuda porque não conseguiam um emprego", afirma.

Priscila Barbosa roubou cerca de 2 mil identidades
(Foto: Instagram Pessoal)

A mulher de 37 anos  é conhecida como a rainha da "Máfia do Uber", esquema desarticulado em 7 de maio de 2021, dia em que Priscila foi presa. 

Segundo o Departamento de  Justiça dos EUA, ela era a cabeça do grupo que contava com mais 18 pessoas e  foi responsável por falsificar cerca de duas mil contas nas plataformas Uber, Lyft, DoorDash e de outros aplicativos de comida, entrega e transporte. Eles alugavam os perfis falsos para imigrantes sem autorização para trabalhar no país. 

Priscila foi sentenciada em junho de 2023 a três anos de prisão e três anos de liberdade vigiada, mas a essa altura ela já tinha cumprido pouco mais de 2,1 anos de cadeia. 

A brasileira foi solta em novembro de 2023. 

INÍCIO

Priscila conta que passava por dificuldades financeiras em 2018 quando aceitou a sugestão de um conhecido em Massachusetts e migrou para os EUA.  Ao chegar em terras americanas não conseguiu contato com o homem que havia oferecido ajuda. "Encontrei ele tempos depois, ele ficou assustado, mas não conversamos. Ele tinha dito que me ajudaria, que poderia ficar na casa dele até me estabilizar e comentou que ser Uber aqui dava dinheiro", disse ao UOL.

A paulista desembarcou em Nova York com o visto de turista e US$ 117 na carteira. De lá, pegou um ônibus até Boston.

Durante a viagem resgatou o contato de outro brasileiro que conheceu durante uma visita a Miami, na Flórida. Ele a hospedou e a indicou para o primeiro trabalho em uma pizzaria, contou  Priscila ao site americano Wired.

Ela tentou ingressar no ramo da limpeza, mas encontrou a estabilidade financeira como motorista de Uber com uma conta alugada ilegalmente uma vez que não tinha os documentos necessários. 

Após cerca de um ano, Priscila passou a comandar o esquema fraudulento de contas de aplicativo. Com o conhecimento em sistemas e engenharia social, área na qual se formou no Brasil, passou a usar “truques” para driblar as plataformas. 

Ela revela que comprava os dados na dark web. “Tem de tudo, você escolhe o que quer. Pagava de US$ 10 a US$ 25 pelos documentos, como seguro social e carteira de motorista. Criava contas e alugava por US$ 250 por semana para imigrantes.”

No julgamento, a  defesa de Priscila alegou que seu crime não fez vítimas nem causou prejuízos. "Ela é uma mulher inteligente que driblou o sistema e ajudou as pessoas a trabalhar", segundo citação dos autos da Corte. Priscila concorda e acredita nisso. 

PRISÃO

Ao chegar na prisão, ainda durante a pandemia, a brasileira foi levada para o “hole” (buraco),  uma espécie de cela solitária destinada para detentos indisciplinados, onde passou 14 dias por conta do risco da alta transmissão do coronavírus.

Até cumprir a sua pena, Priscila passou por cinco complexos prisionais em que ela relata ter encontrado muitas mulheres latinas. "Ficava muito quieta na minha, mas me chamavam de ‘princesinha’ porque eu não fazia o padrão das pessoas presas. Eu só chorava, chorei por 7 meses."

CASAMENTO FALSO

Durante as investigações, as autoridades descobriram que Priscila havia conseguido o green card (residência permanente) através da compra de um "marido" por US$ 28 mil em uma agência na Califórnia. 

O documento foi cancelado e após cumprir a pena criminal, ela deveria passar para custódia da Polícia de Imigração (ICE) e ser colocada em processo de deportação. 

No dia 15 de novembro de 2023, um dia antes de ser transferida para o ICE, Priscila viajou para Boston, algemada e escoltada por dois oficiais da Marshals, saindo do Alabama, onde passou os últimos meses presa, para testemunhar na Corte de Federal no caso dos casamentos falsos. 

A deportação de Priscila foi  suspensa até janeiro quando o processo da fraude dos green cards por casamento chegou ao fim. 

FUTURO

Com a intenção de ficar nos EUA, a brasileira já havia entrado com um processo de asilo em dezembro e espera o desfecho no país. 

Ao Wired, ela alega temer represálias de pessoas envolvidas na Máfia do Uber e na agência de matrimônios fraudulentos na Califórnia. 

Já à Manchete USA, ela afirma que apenas os indivíduos do esquema para obter o green card ilegalmente representam perigo.  "Tenho medo porque eles têm todo o meu histórico de vida", ressalta a brasileira. 

À diversos veículos de imprensa, Priscila ainda diz que a vida de luxo ostentada nas redes sociais ficou para trás. Dos US$ 780 mil que arrecadou na "Máfia do Uber", a maior parte foi confiscada pelo governo. Ela afirma que o pouco que lhe restou, sem revelar a quantia, está sendo usado para recomeçar. 

Hoje ela trabalha como tradutora, fez um curso de paralegal e pretende abrir uma loja online para vender acessórios.


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